A Moda na Era Medieval – Parte 3: Anos 1350 a 1450 (Late Gothic)
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A Moda na Era Medieval – Parte 3: Anos 1350 a 1450 (Late Gothic)


Introdução


A Era Medieval, foi um período da História Européia que durou do século IV ao século XV. Os historiadores atuais dividem a Idade Média em três partes: Idade Média Inicial (476-1000), Alta Idade Média (1000-1300) e Idade Média Tardia (1300 – 1453). No século XIX, a Idade Média inteira era comumente chamada de “Dark Ages”.

As postagens sobre a Moda Medieval aqui do blog estão divididas em três partes que não tem a ver com as reais divisões históricas do período. As divisões foram feitas baseadas em mudanças significativas na Moda da época. A postagem da Parte 1 abrange a moda dos anos 400 a 1200; a Parte dois abrange o Early Gothic (Gótico Inicial): 1200 a 1350 e a Parte 3, o Late Gothic (Gótico Tardio): 1350 a 1450.


Idade Média – Anos 1350 a 1450


Entre os anos de 1348 a 1350, a peste negra matou um terço da população Européia. Durante a peste era comum entre as mulheres o "Pregnancy Look" (estilo gravidez), elas vestiam um travesseiro sob a roupa para simular estarem sadias a ponto de carregarem um bebê no ventre. Quem sobreviveu à peste prosperou, tornou-se rico em um curto espaço de tempo. Mostrar a riqueza adquirida entrou em jogo através da extravagância no vestir. Foi nessa época, na segunda metade do século XIV, que surgiram os primeiros sinais do que chamamos hoje de “moda”.
Homens usando Gibão, Jaquette e beca

Na moda masculina, o gibão (um tipo de casaco abotoado na frente), era de vários tipos de tecidos, em geral couro ou algum pano grosseiro de boa qualidade. Nunca tinha ornamentos ou bordados e passou a ser acolchoado para realçar o peito. Tinha mangas bufantes, gola alta e dava a impressão de cintura fina. A peça encurtou tanto a ponto de ser considerado indecente e exigir o uso do codpiece, uma aba (como um tapa sexo estofado) que cobria a frente dos calções masculinos e também guardava pertences. Por cima do gibão, podia-se usar a jaquette, que tinha formato de túnica era justada com cinto ou cordão na cintura e podia ser decorada nos decotes ou punho com pele. Também tinha uma túnica decorada, de comprimento médio. Entre 1380 e 1450 surgiu a beca: justa no ombro, mangas amplas e compridas, solta e longa, usada com um cinto na cintura era vista em todas as classes sociais, por ser uma peça funcional. Eram comuns mangas tipo saco nos casacos.


Traje Italiano
A indumentária italiana era igual à inglesa, francesa e alemã, porém o requinte dos tecidos era maior e lá os casacos justos e curtos (acima do quadril) exibiam uma espécie de saia pregueada enfeitada por um cinto ou fivela.


Filipe, o Bom.
Lá por 1450, na Borgonha, viu-se o que parece ter sido a primeira ocorrência da moda masculina em vestir-se todo de preto, posteriormente conhecido como o estilo "espanhol" (meados do século XVII), a moda da roupa preta foi iniciada pelo duque francês Filipe, o Bom.

Os chapéus masculinos tinham várias formas e cores e eram feitos de diversos materiais.


Cabelo Medieval
Os cabelos eram curtos ao estilo pajem ou compridos e encaracolados podendo ter uma franja. Cabelos loiros eram populares e no final do século, o cabelo na altura dos ombros tornou-se moda. Não se usava barba, se usassem, eram pontudas acompanhadas de um pequeno bigode.

 Desde 1380, os sapatos era muito pontudos (poulaines), as pontas chegaram a até 60 cm de comprimento, sendo a sola de madeira para poder manter a ponta sem estragar ou perder a forma. Esse tipo de sapato durou até a era Tudor.  Tal fato provocou uma revolução na moda que abordarei numa futura postagem sobre a “Parte 2” da  Moda Renascentista.




As roupas femininas do século XIV não sofreram grandes modificações,  uma mudança significativa foi o uso da beca, que era acinturada próxima ao busto formando uma cintura alta e tendo uma plenitude sobre a barriga. Essa sobreveste por vezes usava uma quantidade incrível de tecido no corpo e arrastando pelo chão.

Os decotes ainda eram baixos podendo ser em V na parte da frente e de trás; as caudas dos vestidos eram longas, as saias largas. Devido ao fato de as vestes de baixo femininas poderem ser fechadas com cordões a peça podia ficar bem justa no corpo, as mangas justas e longas chegavam ao peito da mão, as mangas da sobreveste por vezes se arrastavam no chão. A capa elaborada, em ocasiões especiais podia se passar por vestido pelas mulheres de classe alta. Já as mulheres de classe média preferiam roupas simples com bom corte e boas cores. As mangas podiam ser pendentes, longas, em forma de asa ou do tipo saco. O "pregnancy look" era bem comum. Os sapatos eram de bico longo e finos como o dos homens.

Numa era de arquitetura gótica, onde altas torres se erguiam em direção ao céu, não era diferente no vestuário. Se as vestimentas femininas eram simples, seus adornos de cabeça se tornaram cada vez mais altos e exagerados.  Havia inúmeras formas de enfeites de cabeça e  uma imensa variedade de penteados elaborados e fantásticos que duraram até o fim do século XV. Era comum os cabelos serem penteados para trás, escondidos em redes. No final de 1400, os fios que cresciam na testa e nas sobrancelhas eram raspados para que o chapéu fosse a atração principal.
Os cabelos dividos ao meio e torcidos na lateral do rosto eram guardados na crespine (rede de cabelo) que tinha estrutura de arame e era usada nas laterais do rosto e adquiriu uma forma cilíndrica ou esférica, com uma forma pontiaguda de aparência de chifres. Esse adorno corniforme surgiu por volta de 1410 e sobre essa estrutura prendia-se o véu. 

 

Havia um adorno espetacular chamado “borboleta”: uma estrutura presa a um pequeno chapéu que escondia os cabelos, servia de apóio a um véu diáfano com forma de asas de borboleta. A moda foi popular até 1485. Tinha também o adorno em forma de coração, onde o véu era usado como enfeite.

Adorno "Borboleta":



Adorno "Coração":


 

Mas foi o Hénnin (ou campanário),  que conhecemos hoje como chapéu de bruxa ou de fada que atingiu proporções extremas. Ele surgiu na década de 1400. Era na forma de cone pontudo (70, 80 ou 90 cm) em seda ou veludo com um véu preso na parte mais alta. Com o auxílio de vários arranjos de arame o véu era disposto na parte superior do cone e às vezes caía até o chão. Havia também o modelo de dois cones, um de cada lado da cebeça. O hénnin logo evoluiu para uma exibição de status pois o tempo de preparação elaborada, bem como a maneira lenta e deliberada da mulher andar só poderia ser mantida pelos ricos com tempo ocioso.

Hénnin de cone ou pré-hennin:



Hénnin no auge das proporções:


 

A maquiagem na Idade Média:
As mulheres usavam sanguessugas para deixar a pele pálida; diz-se que faziam uma mistura de cal, sulfureto de arsênico, ungüentos feitos de cinza de ouriço, sangue de morcego, asas de abelha, mercúrio e baba de lesma para depilar e remover os pêlos indesejáveis; para clarear o cabelo misturavam diferentes ingredientes como fezes de lagartos verdes no óleo de noz e enxofre; para colorir os lábios usavam açafrão; para escurecer os cílios usavam fuligem; sálvia para embranquecer os dentes; clara de ovo e vinagre para aveludar a pele; rosas secas, especiarias e vinagre faziam perfumes; vários tons de lápis de olho e sombras foram vistos na Idade Média.


O retrato pintado por Jan Van Eyck, “O Casal Arnolfini” de 1435, mostra o rico comerciante Giovanni Arnolfini  e sua esposa Giovanna Cenami, vestidos à moda da época. O homem veste casaco de veludo, camisa preta acolchoada com bordado de ouro nos punhos, meias pretas cobrem suas as pernas. O chapéu indica sua riqueza. No canto inferior esquerdo, um sapato poulaine. A esposa usa uma sobreveste de lã verde com mangas tipo saco e debrum em pele na cor creme e cintura muito alta. Ela não está grávida. Esse é o famoso “pregnancy look”, comum nesse século, que simula uma gravidez mostrando como ela pode ser fértil para o marido numa época em que a expectativa de vida era baixa e as crianças morriam ainda pequenas. Mostrar gordura na parte de baixo do quadril também insinuava mais chances de sobreviver numa época em que muitos passavam fome. A veste de baixo tem a cor azul. Ela também tem os cabelos da testa raspada e usa um crespine com um véu em fino linho.
Algumas curiosidades desse século são: o surgimento da xilogravura; a invenção da imprensa (prensa usada pra imprimir jornais); a descoberta da América e a reforma Luterana.
Como vimos nessas três postagens, a Idade Média abrange um tempo longo na história da humanidade. Começou com a queda do Império Romano e acabou com o início de um tempo de descobertas: o Renascimento.

A Moda na Era Medieval – Parte 1: Anos 400 – 1200
A Moda na Era Medieval - Parte 2: Anos 1200 a 1350 (Early Gothic)

O texto foi escrito pela autora do blog de acordo com pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar o texto na íntegra para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes. A pesquisa de imagem e texto da autora foi os livros: História do Vestuário, A Roupa e a Moda, A Idade Média: O Nascimento do Ocidente. 

*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.



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