Moda
Século XIX: Parte 1 - A Moda na Era Romântica
A Era Romântica (Revival Medieval/Renascentista)
Aprox. 1820-1840
No começo do século XIX houve um revival da era medieval que foi chamado de Período Romântico. Esse nome deriva do fato de arte, literatura e música focarem em emoções e sentimentos ao invés da racionalidade. O início dessa onda romântica foi devido à uma apresentação da peça de Alexandre Dumas “Henrique III e sua Corte”, nasceu aí uma febre historicista na população, a moda queria reviver e era medieval e o estilo Elizabetano.
As moças queriam ser ladies e os rapazes queriam ser corsários ou cavaleiros. A Idade Média era o tempo do amor de corte e isso deveria ser relembrado!O teatro e a literatura, se alimentavam de histórias de fantasmas, seres mitológicos e heróis. Sendo Lorde Byron, John Keats e sir Walter Scott alguns dos representantes desta época. Era requintado corresponder-se com bilhetinhos escritos em francês arcaico, com palavras raras, expressões como: “Por Belzebú!!”, “Pelos chifres de Auroch” e referências à terra e inferno. No mobiliário e na arquitetura, reproduções de castelos eram comuns, as janelas eram em arcos e com vitrais, tudo com muita influência da Idade Média, como uma fuga nostálgica à um passado ou a um universo imaginário.
Até 1814, no neo-clacissismo, as mulheres usavam pouquíssimas roupas, algo parecido com uma camisola longa, leve e com cintura império (abaixo do peito). Gradativamente a saia, adquiriu novo formato mais aberto na barra até 1820, quando se originou o Período Romântico.
As moças românticas sonhavam em ser donzelas, ladies ou rainhas saídas de um mundo encantado de fantasias e lendas. Deviam ser frágeis e distantes, delicadas e decorativas. Começaram a ser chamadas de “sexo frágil” e deveriam ser um modelo em prendas domésticas e não fazer nada, pois a ociosidade simbolizava o status social do marido.
A cintura era minúscula e quase no lugar original (era um pouco mais alta), coberta por um corset pontudo. Os vestidos podiam ter cores claras ou vibrantes, serem lisos, ter estampas florais delicadas ou listras. Houve uma voga rápida de vestidos em xadrez escocês. Em 1825 a manga bufante, sustentada por barbatanas ou bolas de plumas, recebeu outra manga por cima, maior ainda, feita em gaze transparente. A saia era volumosa, decorada com babados e laços e armadas com diversas anáguas, ia até os tornozelos e mostrava os pés.Pelerines, casacos longos e capas eram usadas em dias mais frios.Os sapatos eram sem salto, no modelo bailarina, combinando com o vestido. Aliás, o ballet romântico iniciou uma era de donzelas etéreas e heróis.
Os vestidos de noite eram mais decotados, deixando ombros à mostra; xales, mantos e leques eram fundamentais. Pérolas, broches, camafeus, pedras, eram acessórios sempre em formato muito delicado.
Os cabelos compridos eram penteados repartidos ao meio amarrados na parte de trás com cachos na testa ou na lateral do rosto. Os chapéus eram imensos, de abas largas. Posteriormente, em 1837, os bonnets se tornaram chapéus populares durante o dia e só permitia que o rosto fosse visto de frente. A sombrinha era essencial, porém raramente aberta porque teria de ser imensa para cobrir os enormes chapéus, então eram carregadas nas mãos.
Haviam, como contraste, as moças que queriam ser morenas ardentes, espanholas com tom de pele oriental ou, ao contrário, transparentes, diáfanas, com uma palidez cadavérica, de uma fragilidade ideal, com cintura de vespa, pescoço de cisne e grandes olhos desbotados, úmidos e ultramarinos. Ter saúde de ferro era vulgar, o ideal era uma “palidez interessante”. Quando não possuiam estas qualidades bebiam litros de vinagre e comiam dúzias de limões para obter uma tez pálida e doentia. Deixavam de comer e apenas beliscavam; prendiam suas bochechas com os dentes para cavá-las artificialmente. Nada era pior do que uma aparência bem alimentada.
As roupas eram restritivas a qualquer movimento, espartilhos, o alto número de anáguas e o peso, fazia com que as mulheres se cansassem com muita facilidade. O grande decote nos vestidos noturnos expunham as mulheres por longas horas ao frio, o que facilitava adquirir doenças como a tuberculose.Em 1830 o movimento começou a definhar, os primeiros romances de George Sands traziam as mulheres como cavaleiras e caçadoras anti- românticas e as moças passaram então a querer viver intensamente, novamente no presente, comiam, bebiam, fumavam e passaram a levar a vida com desenvoltura, usando e exibindo trajes e modos masculinos, surgia aí, as Garçonnières.
A silhueta masculina, assim como a feminina, visava ombros largos e cintura fina.A moda masculina dândi, exigia roupas justas, calças afinadas no tornozelo, de cor clara durante o dia e escuras à noite, com fechamento frontal vertical com zíper, ao invés do fechamento frontal horizontal com botões das épocas anteriores. Os tecidos eram lisos, cores primárias, coletes curtos e quadrados de fechamento simples ou duplo sendo extremamente apertados na cintura, casacos acolchoados nos ombros e no peito, abotoados na cintura. O dândi prezava pelo colarinho da camisa virado pra cima com cravat ou grandes lenços. A dificuldade de virar ou abaixar o pescoço dava um ar de arrogância.
Homens de classe média e alta vestiam espartilhos ou peças que imitavam espartilhos para marcar a cintura e se promover em status, a peça era traje a rigor para oficiais do exército. O espartilho masculino era chamado de "cintas", "cintos" ou vestes", já que a palavra corset soava muito feminina.
Usavam capas largas e pregueadas em torno do pescoço, jogadas sobre os ombros e fechadas com um colchete e uma pequena corrente. Estas, em 1830, acabaram abolidas pelos homens elegantes, sendo usadas apenas por cocheiros e lacaios. Em 1840, a capa é substituída pelo sobretudo.
Cartolas eram usadas em todas as horas, especialmente as em formato de lua crescente (finas no meio, grandes nas bordas) os cabelos eram curtos despenteados, usavam costeletas e bigodes e a bengala era indispensável dia ou noite.
Enquanto um dândi clássico exibia cabelos curtos, os rapazes românticos poderiam ter cabelos imensos e abundantes e lavá-los com infusão de cassis para obter um tom Otelo. Raspavam os cabelos da testa para aparentar uma testa maior passando a idéia de terem pensamentos geniais e profundos. Depilavam as sobrancelhas para deixá-las arqueadas e ferozes, aparavam os bigodes revirados em croque e usavam barba pontuda para obterem um ar satânico, como Mefistófeles. Morar num apartamento escuro como uma cripta, com acústica de catedral, era um sonho, todos queriam seu castelo.
Assim como as algumas românticas queriam ser morena como as espanholas, alguns rapazes também queriam ser morenos, com pele azeitonada, mouresca, com o corpo seco e nervoso, de olhar selvagem apaixonado. Fatal, sombrio, maldito, esmagado sob o peso de um destino abominável, devorado pelas paixões e pelo remorso, desiludido. Byroniano ou mefistofélico, perverso, obcecado pelos poderes do mal e da noite, como quem pertencia à outro mundo. Algumas vezes fumavam datura, que dava um leve efeito alucinógico que as deixava com olhar vago e fixidez mística. Acolhiam com alegria a tuberculose como doença agonizante super chic.
Em 1836, o romantismo já era passado, e a moda, começa a mudar, as cinturas apertadas e ombros almofadados foram abandonados, ainda se usava sobrecasaca e jaqueta e fraque durante a noite ou de dia. As camisas com babados desapareceram. A copa da cartola ficou menor, as calças ficaram bastante apertadas presas sob o pé. Os dandies passaram a ser raros, pois a moda agora não era se exibir e sim ter aparência distinta.
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O texto foi escrito pela autora do blog de acordo pesquisas em livros de Moda lançados no Brasil e no exterior. Se forem usar para trabalhos ou sites, citem o blog como fonte. Leiam livros de Moda para mais informações e detalhes.
*Originalmente postado em meu outro blog, o Moda de Subculturas.
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